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Desafios da Sanidade Avícola - Entrevista com Ariel Mendes
27/11/19
O diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal, Ariel Mendes, proferiu nesta terça-feira, 26 de novembro, em Porto Alegre, palestra magna no 2º Simpósio Asgav sobre Atualizações em Sanidade Avícola, promovido pela Associação Gaúcha de Avicultura com o apoio do Fundesa. Mendes falou sobre Sanidade Avícola e Impactos Mercadológicos. Na apresentação, o dirigente concluiu que a avicultura brasileira precisa se “blindar” mas sem perder a competitividade. Ele aposta num aumento do consumo de produtos com maior valor agregado nos próximos anos e recomendou às empresas que fiquem atentas aos programas de qualidade, atendendo as exigências dos consumidores e países importadores. Confira a entrevista concedida à equipe de comunicação do Fundesa.
O tema da Peste Suína Africana está em alta e traz força à temática da biosseguridade para o setor de suínos. Antes, o assunto era a influenza aviária. Como está agora o setor de aves em relação à sanidade?
Ariel: Na verdade está calmo por que acalmamos. O vírus continua presente especialmente na Ásia, então é importante não baixar a guarda. É lógico que agora a preocupação toda está com a Peste Suína Africana, mas a gente tem procurado trabalhar junto na prevenção da Influenza Aviária. Agora o Ministério acabou de criar um grupo de trabalho para prevenção da PSA e tudo o que a gente fizer para essa doença vai ajudar também na prevenção da Influenza, Aftosa, PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína) e outras doenças.
Isso por que as medidas são praticamente as mesmas?
Ariel: À medida que melhoramos a nossa biosseguridade em termos de prevenção, ou seja, em aeroportos, portos, trânsito de pessoas e outros temas, indiretamente estamos trabalhando também na questão da influenza aviária. E não só na questão da prevenção, mas no preparo para contenção e eliminação de focos, que isso é extremamente importante também. A gente tem que ter os Grupos de Emergência (Geases) treinados.
A realização de simulados de emergência é medida importante?
Ariel: Sim, já estão previstos simulados. Um binacional, com Brasil e Uruguai e provavelmente depois teremos um com o Paraguai, promovido pela Associação Latinoamericana de Avicultura para começarmos a ver esse tema também de simulados regionalmente. Para 2020 queremos retomar os simulados de IA no Brasil. Foi feito um recentemente no Paraguai em agosto, e a gente quer retomar isso aqui para o ano que vem. Fora isso a gente está trabalhando a questão dos fundos, programas de seguro sanitário.
Seguro sanitário já é uma realidade na avicultura?
Ariel: Mês passado assinamos o primeiro seguro sanitário de Influenza e New Castle a Associação de Avicultura do Mato Grosso e o Fundo de Defesa Sanitária do estado. É mais uma ferramenta que a gente tem aí. Com o seguro a gente consegue multiplicar bastante o recurso disponível do fundo. Em vez de ficar arrecadando dinheiro indefinidamente, deixando parado no banco, com juros baratos, se pegaria parte do recurso do fundo para pagar um prêmio de seguro e com isso se multiplica por 10 ou 20 vezes o valor que se teria para indenização e para ações de prevenção. Então é uma ferramenta nova que a gente tem, conseguiu formatar e a gente quer estender isso para outros estados também.
Outro tema importante e que acaba sendo importante para a avilcultura também é a questão da resistência aos antimicrobianos. Como o setor trabalha essa questão?
Ariel: O uso do antimicrobiano como promotor de crescimento ou melhorador de desempenho tende a acabar. O Ministério da Agricultura resistiu o que pode com muita pressão inclusive do Ministério da Saúde e Anvisa, pelo banimento. Mas o Mapa sempre teve um trabalho muito proativo, entendendo que é uma ferramenta que está aí. Entretanto no ano passado foi banida mais uma molécula, que foi a colistina. Então isso é uma tendência. Foi criado um grupo de trabalho, o ministério pediu uma série de estudos. A gente conseguiu comprovar que algumas moléculas não têm relação com resistência antimicrobiana porque não são utilizadas na terapêutica humana. Mas de qualquer maneira é uma situação quase irreversível o banimento destas moléculas no médio prazo. Nós vamos ter que nos adequar a isso, como setor de produção. Encontrando substitutos como os probióticos, fitogênicos, e uma série de outros produtos. Não são tão eficientes que quanto os antimicrobianos, mas acaba sendo uma solução. E principalmente melhorando o manejo e a biosseguridade manejo para não precisar usar antibiótico preventivamente. Lógico que curativamente a gente vai ter que continuar utilizando, isso o mundo aceita. Na eventualidade de ter uma doença, você tem que usar o antibiótico, pois se trata de bem estar animal. Não vai deixar os animais lá sofrendo, tem que tratar. Só que aí você não pode utilizar os antibióticos importantes para a saúde humana e os criticamente importantes, que a OIE tem uma lista.
Essa preocupação com o uso excessivo de antimicrobianos tem relação mais forte com a saúde humana então?
Ariel: Exatamente. Países como a Suécia e a Dinamarca que já baniram os antibióticos há muito tempo... o que aconteceu? Amentou o consumo de antibióticos, pela maneira de criação das aves, você cria em lotes grandes, e o fato de utilizar preventivamente acaba diminuindo a ocorrência de doenças. Como você não usa, apareceu uma doença, tem que medicar. Vários trabalhos mostram que depois do banimento na Dinamarca, por exemplo, aumentou o uso de antibióticos, só que para o tratamento dos lotes. Agora é uma tendência, por enquanto é um nicho de mercado mas isso vai aumentar. Tem um custo de produção mais alto e o consumidor tem que pagar um pouco mais por isso.
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